domingo, 23 de outubro de 2011


NEVOEIRO


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Brasil a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
(F. P. - Adaptado!)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um clique


Tenho hoje ídolos em minhas mãos: Hilda e Carlos.
Braga aguarda no saguão.
Lawrence e Sérgio longe de tempos vindouros...
e sabemos o que nos faz a palavra imortal.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

I´m nobody! Who are you?



I'm Nobody! Who are you?
Are you—Nobody—Too?
Then there's a pair of us!
Don't tell! they'd advertise—you know!

How dreary—to be—Somebody!
How public—like a Frog—
To tell one's name—the livelong June—
To an admiring Bog! 

(by Emily Dickinson) 

domingo, 16 de outubro de 2011

Felicidade


Fiz uma rede comprida pra ele.
Ele veio e contou de suas caçadas,
lembrou a história do macaco prego,
segurou minhas mãos, acochou os dedos,
alisou os meus ombros...
apalpou minha pele, os braços, os joelhos
cantando bem baixinho foi me amolecendo.
No espaço, as fogueiras eram brasas.
Ele me fitava com o olhar de quem tocaia
bicho perigoso.
Cilada de onça.
Afagava, fechava os olhos, abria...
Assim foi a noite toda.
De manhã, ele tirou sua flecha feliz.

FILHO SOUSA, Sinval M. In:  Poesia Clã do Maracá. Porto Alegre: Shan, 2010, p. 13.

sábado, 15 de outubro de 2011

O homem da city


            Comendo o tempo em tuas cornijas
            encatados roofs, noble pavements, 
            [cheerful pubs, delicatessen
crumpets, a glass of bitter, cap and
[gown...  don’t cry, don’t cry!
            (A última elegia – Vinícius de Moraes)

I don’t know all the things I am! 

Lembro orgias do tempo planejado,
Pela noite extensa labirinto.
As cores somem no jato jorrado,
de repente, prorrogo o que sinto.

What do I know about me?
I am a man in the city.
Is there a city in my acme?
I just depend on ambiguity…

A cidade molda em mim o instinto,
nas curvas das ruas me vejo zoado.
Correm as sentinelas que pressinto
e me tomo num mundo perturbado.

I try to speak with people
‘cause I need loving care and attention.
No one can leave one’s own castle, 
And everybody lets me off with a caution.

Não há gente pra salvar a alma pobre,
esperam que só o tempo a  manobre.
Atiram no absurdo esperança...

I am what is left in the fridge,
My secrets are in the distant eyes.
The world is a knife with a sharp edge,
And I wait for its glad eyes.

No céu, miro a cortante estrela
e cedo ou tarde hei de temê-la.
Só tenho certeza de uma herança...

I don’t know all the things I am!  

Poema de Sinval M. S. Filho. In: FILHO, S. M. S. Poemas da vez. Porto Alegre: Shan, 2006, p. 5.